Amber #99 - O sabor da vingança.

4 de dezembro de 1939
11h27

Jin-su estava preso. Colocado em um quarto, com os punhos acorrentados, sentado na frente de uma mesa, ele aguardava seu interrogatório. Demorou alguns minutos desde o momento que ele havia sido retirado da cela e estava aguardando lá, num prédio secreto da Kuomintang, não muito distante de Nanquim.

“Schultz, vou entrar, você pode ficar mais alguns minutos guardando a porta aqui, por favor?”, pediu Tsai ao cumprimentar Schultz.

“Claro, princesa! Alguma orientação de sua parte?”, perguntou Schultz, dando um passo pro lado, liberando o caminho para Tsai entrar.

“Sim, não deixe ninguém entrar. Falo da Chou, a Li, e especialmente a Eunmi. O que quero fazer é um interrogatório sadio e civilizado com Jin-su. As três podem estar meio esquentadas e podem querer fazer meio que justiça com as próprias mãos. Tenho um pouco de medo disso”, disse Tsai antes de entrar.

Schultz bateu continência pra ela com um sorriso. Ela então abriu a porta e adentrou, mas, antes de fechar, Tsai olhou para Schultz e balançou positivamente a cabeça com um tímido sorriso. Uma forma de deixar nas entrelinhas que deixava sua proteção e de Jin-su em suas mãos. O coração de Schultz palpitou forte, e depois que a porta se fechou ele sentiu um imenso calor no seu rosto. Ele estava completamente vermelho!

“Muito bem, Jin-su. Bom dia. Espero que esteja bem”, iniciou Tsai, falando em coreano, puxando a cadeira para se sentar.

“Já estive melhor, Gongju”, respondeu Jin-su, em coreano, “Vamos acabar logo com essa merda, já que tô todo fudido mesmo”.

“Não está, Jin-su. Não estou aqui para arrancar coisas de você na base de tortura ou de qualquer coisa do gênero, isso eu posso te garantir”, explicou Tsai, colocando alguns papéis em cima da mesa.

“Rá! Sério isso?”, respondeu Jin-su, rispidamente, “Eu imagino que você saiba que se você fosse capturada pelo exército japonês eles não te dariam a mesma colher de chá, Gongju”, nessa hora o olhar do coreano ficou extremamente sombrio: “Iriam te torturar, te estuprar, enfiar um cabo de vassoura na sua xoxota e te açoitar até a morte!”.

“Eu sei. Mas é exatamente por isso que acredito que temos que ser melhores e dar o exemplo. Não faz sentido pedirmos por direitos humanos se violarmos os mesmos. Podemos estar em guerra, mas acredito que até mesmo a guerra deve ser lutada de maneira correta”, disse Tsai, fazendo uma pausa, “Além do mais, tem outra coisa”.

“Outra coisa?”.

“Você é peixe pequeno, Jin-su. Você é apenas uma engrenagem sendo mandada por alguém acima de você. Existem pessoas para as quais você é subordinado, por isso mesmo eu quero fazer uma negociação com você”, disse Tsai, se voltando para Jin-su.

“Adiante, Gongju”.

“Pois bem, obrigada por ouvir. O que te proponho é o seguinte: você de qualquer forma vai ficar preso em poder da Kuomintang. É muito perigoso para todos nós que você fique livre. Mas eu posso te garantir que você vai ficar bem menos tempo do que realmente você merece se você colaborar com a gente”.

“Que tipo de colaboração você quer?”, disse Jin-su, de maneira seca.

“Como eu disse, você é apenas um pau mandado, Jin-su. Você é quem está na base da pirâmide, e preciso que você me dê informações para que eu consiga escalar essa pirâmide”, pediu Tsai, checando os papéis que ela trazia, “Preciso de nomes. Preciso saber a pessoa que te ordenou que você fizesse aquilo de dias atrás. Se tivermos um nome, iremos atrás da pessoa, você não vai passar tanto tempo preso, e todos nós ganhamos. Sua segurança estará em nossas mãos”.

“Espera aí, não entendi uma coisa”, disse Jin-su.

“Pode perguntar. E pode propor também. Estamos aqui pra negociar”.

“Minha pergunta é: você realmente não adere à tortura? Acha que apenas com uma negociação besta dessas você vai arrancar algo de mim?”, disse Jin-su, como se estivesse com o jogo em mãos.

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Do lado de fora Schultz estava de braços cruzados do lado da porta. Era possível ouvir tudo o que diziam lá dentro. Ele não imaginava que Tsai iria tão direto ao ponto. Achou que talvez por um momento teria uma chance de ouvir alguns gritos de tortura ecoando lá dentro, mas tudo o que ele ouvia era Tsai, sem levantar a voz e impor autoridade em nenhum único momento negociando informações de maneira civilizada com Jin-su.

Schultz sabia que de alguma forma aquilo demoraria. E que talvez Jin-su não estivesse tão disposto a dizer o que sabe assim, tão rápido. Mas Schultz percebia o quão boa em interrogar a Tsai era. Ela era uma pessoa incrivelmente inteligente e talentosa em praticamente tudo, inclusive na dialética.

“Schultz, sai daí, eu vou entrar”.

Distraído, Schultz tomou um susto ao ver uma pessoa passando por ele e colocando a mão na maçaneta da porta. Rapidamente agiu e viu que era ninguém menos que Eunmi.

“Opa, opa, opa! Espera aí, coreana! Nada disso!”, disse Schultz, puxando a mão dela da maçaneta.

“Me dá a chave, Schultz!”.

“Mas nem fudendo! Você não vai entrar aí!”.

“Schultz, eu não estou pedindo”, disse Eunmi, decidida, incisiva, “Me dá a chave agora!”.

“Olha Eunmi, espera, se acalma, olha pra mim”, disse Schultz, colocando suas mãos nos ombros da coreana. Vendo que ela sequer havia virado o rosto para Schultz, ele insistiu: “Olha pra mim, Eunmi! Por favor!”.

Eunmi nessa hora olhou nos olhos de Schultz. Suas sobrancelhas ainda estavam arqueadas, denotando seu descontentamento.

“Você tá fora de si, só vai atrapalhar as coisas. E você sabe que a Tsai é muito boa, se tem alguém que pode interrogar seu primo, essa pessoa é a Tsai”.

“Boa uma ova! Até parece que o Jin-su vai sucumbir em apenas um bate papo!”.

“Olha, eu tô ouvindo aqui. Inclusive só de ouvir fiquei todo distraído, nem vi você passando!”, disse Schultz, relembrando sua distração, “Mas o que eu ouvi me fez ter a certeza de uma coisa: se tem uma pessoa que pode arrancar uma informação de Jin-su é a Tsai. Ela está disposta a negociar, a cansar ele, a fazer propostas e tudo o que for necessário. Eu nunca duvidei que ela conseguisse até se sair bem interrogando uma pessoa, mas o que eu ouvi era fora de qualquer coisa que imaginei! Tenho certeza absoluta que se tem uma pessoa que conseguiria, essa pessoa é a Tsai. Ela é melhor do que qualquer pessoa que já vi!”.

Eunmi estava com olhos pousados sobre Schultz em silêncio, aparentemente ouvindo tudo. Mas como ela não respondeu quando Schultz terminou, o alemão ficou confuso.

“Entendeu o que eu disse?”.

“Entendi”.

“Entendeu mesmo?”

“Entendi”, disse Eunmi, impaciente, “Vai me deixar entrar agora?”.

“Ah, Eunmi, fala sério! Você não ouviu nada!”

Eunmi então deu meia volta e ficou parada, de costas para Schultz. Ela não queria ter que tentar isso, mas não havia outra opção.

“Olha, Eunmi, fica aqui um pouquinho e ouve a Tsai. Tô dizendo, ela manja! Ouve só...”, disse Schultz, colocando a mão sobre o ombro de Eunmi, que na mesma hora agarrou sua mão e tentou imobilizar Schultz, o jogando contra a parede.

“Chega disso, Schultz! Melhor você me dar a chave logo, ou eu vou quebrar o seu braço!”.

“Ai, essas crianças...”, disse Schultz com a cara contra a parede. Ele rapidamente esticou a perna e deu uma rasteira em Eunmi, a puxando com o outro braço que estava livre, a jogando no chão e ficando por cima dela, “Olha, força comigo aqui não vai funcionar. Eu também tenho tanta técnica quanto você, sou um agente de alto escalão da inteligência alemã, menina!”.

“Merda!!”, disse Eunmi, imobilizada por Schultz no chão, “Tá bom então, vai! Você ganhou!”.

Schultz então a soltou e deixou ela se levantar.

“Olha, me escuta por favor. Deixa a Tsai fazer o serviço dela. Confie nela!”, pediu Schultz, e enfim havia algo diferente em Eunmi. Parece que enfim ela havia prestado atenção no pedido do alemão.

“Tudo bem Schultz, você ganhou”.

“Sério? Desistiu da ideia de entrar aí?”.

“Eu só queria ver a cara dele de novo. Com meus próprios olhos”, disse Eunmi. Seus olhos transbordavam com um ar de esperança, como se ela desejasse isso com toda sua alma, “Quero que ele sinta nojo com meu olhar, quero que ele sinta vergonha por tudo o que fez só de encarar aquele rosto sujo dele! Quero pressionar ele psicologicamente mesmo de longe! Tenho certeza que minha presença lá dentro vai ajudar a Tsai”.

Quando Eunmi dizia, parecia que era realmente iria fazer o que ela dizia. Mas Schultz ainda tinha um pingo de dúvida. Ela havia mudado de maneira muito súbita o pensamento. Ele sabia que Eunmi era uma pessoa incrivelmente vingativa, uma pessoa que não media esforços para tornar real o que queria. Até pra Alemanha ela foi atrás dele pra se vingar de um oficial japonês que havia matado seu noivo! A questão era: será que depois de todo o treinamento com Tsai, Eunmi havia enfim amadurecido?

“Por que isso parece papo furado da sua parte?”, disse Schultz, desacreditado.

“Não é, Schultz. Eu já estou mais calma. Você me conhece”, Eunmi ao dizer isso tinha um olhar tranquilo e sereno. Parecia realmente algo verdadeiro.

“Tem certeza que posso confiar em você?”, perguntou Schultz. Aquela era a pergunta derradeira. Tudo dependia da resposta dela.

“Sim, confie em mim. Ele no começo parecia querer nos ajudar, mas olha só o que ele fez, Schultz. Se ponha no meu lugar: um primo, alguém que você chamava de família, virou um criminoso que traiu tudo o que você gosta e admira. Eu sei que posso ajudar a Tsai dessa forma. Quero ver o rosto dele tremer de medo ao me encarar”, disse Eunmi, com os punhos cerrados, “Pode confiar em mim. Prometo que não vou matar ele. Eu quando cheguei aqui estava apenas fora de mim. Eu já estou bem mais calma agora. Não tem como fazer nada com você lá no meio, você é bem mais forte que eu!”.

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“...Quer saber o que eu acho, Gongju?”, disse Jin-su, dentro da sala, “O Império Japonês vai vencer, vai fundar uma grande república no leste asiático, trazer um milagre econômico e cultural para toda a região, transformando todos em um único país, leal a um único imperador, virando uma verdadeira potência mundial!”.

“Francamente eu não gostaria que isso acontecesse, Jin-su. Todos os países são únicos. Pode até ser que pro ocidente nós do oriente sejamos ‘todos iguais’, mas todos somos países com culturas, costumes, etnias, e história distintas. Tudo isso não pode se acabar deixando todos submetidos ao Império japonês”.

“Mas é isso que vai acontecer, sua vaca!!”, gritou Jin-su, “Tudo o que você conhece vai desmoronar, o Japão vai ganhar e conquistar tudo, se erguer como potência mundial e todos os outros países que não possuem estrutura alguma vão se tornar o que eles deviam ter sido desde o começo! Parte do grande Império japonês, sua idiota!!”.

Nessa hora a porta se abriu. Tsai e Jin-su se assustaram ao ouvirem o som da porta, e ficaram ainda mais boquiabertos ao verem ninguém menos que Eunmi entrando.

“Filho da puta desgraçado!”, disse Eunmi avançando furiosamente contra Jin-su, “Vou acabar com tua raça agora, seu merda!!”.

Eunmi então saiu correndo pra cima de Jin-su, o lançando pra longe da cadeira e o segurando pelo pescoço, enquanto fechava o outro punho e começava a socar violentamente Jin-su, que se encontrava no chão, com Eunmi por cima dele.

“Mas o que raios está acontecendo...?”, se perguntou Tsai, se erguendo da cadeira, mas nesse momento ela viu uma mão se colocando na sua frente.

“Espera aí, princesa”, disse Schultz, acalmando Tsai. Ele então se voltou para Eunmi, “Ei, Eunmi! Isso não estava no acordo! O que caralhos é isso, menina?!”.

Mas Eunmi parecia ignorar completamente e continuava surrando Jin-su sem a menor piedade. Tsai percebeu que era a hora dela entrar no meio e impedir que aquilo acabasse em morte. Mas ela ao tentar avançar sentiu o braço de Schultz e impedindo de chegar neles.

“Schultz, o que significa isso? Me deixa ir! Ela vai acabar matando o Jin-su!”, pediu Tsai, mas Schultz nessa hora apenas virou o rosto para Eunmi, e estava arrependido de ter dado aquele voto de confiança na coreana.

“Seu merda!! Seu imbecil, sem cérebro, seu excremento de ser humano!”, dizia Eunmi enquanto aplicava potentes chutes em Jin-su, “Traiu minha confiança, traiu a todos nós, e quase matou meus amigos!”.

Os chutes batiam em Jin-su e o som do impacto ecoava através do cômodo junto dos gritos dele, seguido de perto pelas palavras duras de Eunmi. Schultz vendo que havia errado em confiar em Eunmi, achando que ela realmente iria apenas ficar fazendo algum tipo de pressão psicológica, se sentiu profundamente arrependido em ter dado esse voto de confiança para a coreana.

“Schultz, me solta agora, por favor!”, gritou Tsai, tirando Schultz da imersão que estava em seus pensamentos.

“Por favor, para! Tá doendo! Ahhhhh!”, gritava Jin-su, desesperado. Ele levou suas mãos no rosto e começou a gritar, como se estivesse chorando. Quando baixou os braços e era possível ver novamente seu rosto, era possível perceber que lágrimas caíam do seu rosto e se misturavam com o sangue, “Tá doendo, eu desisto, por favor para com isso!!”, gritava Jin-su no meio do seu choro. Ele estava desesperado, sabia que não poderia aguentar mais a dura surra que estava levando de Eunmi. E sem ter o controle, agia de maneira desesperada, chorando igual uma criança quando levava surra da mãe.

“Seu filho da puta covarde! Na hora de fazer o que fez você foi bem machão, não? Na hora de me puxar pelo braço, e querer que eu te seguisse não te faltou bolas, não?”, gritava Eunmi, desferindo toda sua fúria em golpes praticamente a cada palavra que dizia, “Mas agora você tá aí no chão, chorando igual uma criancinha!”, Eunmi nessa hora cuspiu no rosto dele, “Lixo imprestável! Escuta bem, eu não vou parar, seu merda! Eu tô só começando!”.

“Schultz!! Me deixa ir agora!”, pedia Tsai, empurrando Schultz, mas ele se voltou para Eunmi, ainda ficando entre Tsai e a coreana. Ele sentiu que era a hora dele falar.

“Eunmi, é assim que você vai retribuir a minha confiança?! Você tem certeza?”, disse Schultz, fazendo um apelo para a voz da razão que ainda devia existir dentro de Eunmi.

A coreana então deu um chute, virando Jin-su de bruços. Ele já estava todo ensanguentado, realmente nas últimas, praticamente inconsciente. Eunmi puxou o braço dele e o deixou lá, estendido no chão. Virou o rosto procurando algo, enquanto isso Schultz e Tsai observavam sem entender qual era o plano dela.

“Isso vai servir”, disse Eunmi, puxando a mesa e erguendo ela. A coreana então enterrou o pé da mesa em cima do braço de Jin-su, que deu um grito de dor desesperador em lágrimas, implorando pela sua vida.

“Não adianta mais, Schultz. Ela está completamente fora de si”, disse Tsai, vendo o estado que estava a mente de Eunmi, “É o que a guerra faz com as pessoas. Pessoas deixam de considerar até os que são sangue do seu sangue, seus próprios parentes, para lutar pelo que acreditam. Eu não sabia que Eunmi era capaz disso”.

“Tsai...”, disse Schultz, também sem achar palavras para descrever a crueldade que Eunmi estava empregando contra quem, apesar de tudo, era seu próprio primo.

O osso do braço de Jin-su devia estar em pedaços debaixo do pé daquela mesa. Ele gemia de dor, mas não tinha mais forças, e pelo nível de temor que seu rosto exibia, estava também completamente amedrontado com a crueldade que sua prima que ele tanto manipulou estava demonstrando. Não havia mais família ali. Apenas um demônio interior de Eunmi punindo Jin-su sem a menor misericórdia.

“Hora de dizer a verdade, Jin-su! Afinal a Tsai quer informações. Mas antes de você dizer qualquer coisa, vou te dar uma demonstração do que vou fazer com você”, disse Eunmi, com um sorriso enfurecido para Jin-su, que embora estivesse esperando algo cruel, talvez tão cruel quanto quebrar seu braço com uma mesa, não esperaria por nem um décimo da dor que viria a seguir.

Eunmi pegou a mão de Jin-su, do braço que estava fixado no chão com o peso da mesa, e ergueu o indicador. Gentilmente colocou o seu pé sobre o dedo erguido, o empurrando para trás.

“Não, Eunmi, você não vai fazer isso!”, gritou Jin-su quando percebeu o que ela iria fazer, “Não, Eunmi, por favor! Não faça isso! Eu te imploro!!”, dizia Jin-su, mas era tarde.

A coreana pisou no seu dedo indicador que estava erguido, o quebrando para trás, causando uma dor além do que qualquer pessoa poderia descrever. Jin-su soltou o seu grito mais grave e alto, cheio de desespero e dor por conta daquela tortura que estava sendo empregada pela sua prima. Ao tirar o pé, era possível ver o dedo sem vida, caindo torto, já sem a articulação que o liga com a mão.

“Chang Ching-chong!! Chang Ching-chong!!! Foi ele!! Eu juro!! Agora para com isso, pelo amor de tudo o que é sagrado!!”, gritava Jin-su, desesperado.

Tsai ficou assustada ao ouvir o nome, arregalando os olhos, e dizendo um “Não...” baixinho.

“Hã? Chang Ching-chong? Tá na cara que ele inventou esse nome agora! E quem é o parceiro dele? O Xingue-lingue?”, brincou Schultz.

“Não! Ele existe sim! É um general, subordinado ao Chiang Kai-shek!! Podem procurar!!”, gritava Jin-su, e nesse momento todos se voltaram para Tsai, que estava estática ouvindo aquilo sem acreditar.

“Sim... Ele está certo...”, disse Tsai, baixinho, quase que tremendo sem acreditar no que ouvia, “...Chang Ching-chong é sim um general que é parceiro do generalíssimo”.

“Viu, eu disse!! Ele que me mandou fazer isso tudo. É um espião soviético, na verdade!”, gritava Jin-su, implorando clemência, “Por favor, apenas me deixem longe dela! Me prendam numa masmorra, no que for, mas não me deixem mais perto da Eunmi!”.

“E pra onde ele foi? Quer que eu quebre o dedo do meio para você falar agora?”, disse Eunmi, se agachando para aprontar o próximo dedo, mas nesse momento Jin-su ficou usando todas suas forças para tentar se debater, implorando para não fazer isso:

“Não, pelo amor de deus, não faz isso! Eu sei onde ele está! Ele está em Pequim! Ele tem uma mansão lá, a uns cem metros da Cidade Proibida! Eu vou te passar o endereço certinho, mas pelo amor de deus, não faz isso de novo!”, implorou Jin-su, e nesse momento Eunmi se ergueu.

“Viu só? Rápido e eficiente, Gongju”, disse Eunmi, pegando suas coisas, “Sei que esse modo não tem seu apoio, mas eu faria tudo de novo se fosse para descontar minha raiva nesse lixo que uma vez na vida chamei de família!”.

E assim Eunmi deixou a sala. A guerra era capaz de fazer até mesmo que laços familiares firmes fossem desfeitos de maneira tão cruel e truculenta. Eunmi estava com um rosto plácido e tranquilo, como se Jin-su não significasse absolutamente nada para ela ao sair daquele cômodo.

A vingança estava feita. E ela havia saboreado cada momento. Aquela menina boba e atrapalhada guardava um demônio dentro de si, mas agora era tarde.

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