Doppelgänger - #109 - A origem de todo o mal (1)

21h01

Al estava apenas de toalha, sentado na cama, esperando Victoire.

Quando ela apareceu, esta estava com um olhar provocante, com um singelo sorriso malicioso. Estava com duas toalhas, uma na cabeça, enrolada como um turbante para secar seu grande cabelo e outra no corpo. Esbanjava sensualidade em cada respiração.

“E aí, tá pronto?”, ela perguntou (como se precisasse perguntar isso).

Ela tirou a toalha da cabeça e seus cabelos castanhos balançaram no ar. Ela se aproximou da cama e empurrou Al para se deitar e, ainda os dois de toalha, ela montou nele, segurando-o pelos braços.

Aquela era uma sinfonia em silêncio. Os dois ficaram se olhando como nunca haviam se olhado. Pouco a pouco o pênis ereto de Al ia tomando forma, mostrando o volume embaixo da toalha. Mas Victoire permanecia com aquele mesmo olhar estranho de todas as vezes que eles faziam sexo.

Um olhar ao mesmo tempo de entrega, e de dúvida. Pois ela sabia que não havia sentimento de paixão por parte de Al, ou que aquela relação nunca havia sido feita para perpetuar. Era algo líquido, como todas as relações do mundo atual. E é óbvio que não era isso que ela queria.

Mas um outro lado dela gritava forte para que ela se entregasse. Afinal, aquele era o homem que ela amava – mesmo que ele não nutrisse a mesma coisa por ela. Ainda assim era o homem que ela gostaria que ficasse do seu lado, mesmo apesar de todas as coisas que ela havia feito pra ele, destruindo sua vida, acelerando seu processo de envelhecimento para que sua morte fosse o mais prematura e natural possível.

Como todas as mulheres, Victoire era um ser indecifrável. E muito instável. Como uma pessoa ao mesmo tempo nutre um ódio e amor pela pessoa? Como pode funcionar o coração das mulheres assim? E porque tinha que ser justo com o Al? Questões que ela não sabia o motivo.

Depois de muito se olhar, eles se beijaram.

E a dança havia começando.

Al puxou com um único movimento a toalha da sua cintura, ficando completamente nu na frente da francesa. O beijo dos dois estava cada vez mais quente, as línguas se tocavam como num baile, e logo ele havia tirado Victoire de cima dele e estava com ela do seu lado.

“O que foi?”, disse Victoire ao perceber que Al havia parado de beijá-la.

“Desculpe, entrou cabelo aqui na boca”, disse Al, tirando da sua boca um pouco do cabelo de Victoire que havia ficado.

O que Victoire sentia ao beijar Al?

Sabe aquela sensação que pessoas apaixonadas sentem quando suas bocas tocam com a da pessoa que amam? Chega aquele misto de ansiedade com uma recompensa, como se aquela troca de salivas fosse algo que satisfizesse ela de tal maneira que nada mais importava.

A troca de respiração, sentir e compartilhar o mesmo ar que a pessoa sente. Beijar é tampar a respiração e mergulhar num mar desconhecido onde as línguas se tocando ditam o andar da carruagem. Fechar os olhos e apreciar cada momento, cada toque, como se ambos entrassem em uma meditação profunda, em um transe um com o outro, como se fosse uma hipnose que não era apenas dita por um pêndulo, mas pelo movimento do corpo do casal.

As cabeças se virando, beijar era também uma forma de travar um duelo entre predadores. Não se sabe como, mas os movimentos, que parecem “mordidas” carinhosas sempre acabam sincronizadas. Beijar é como dar e receber prazer. Uma vez era Al que abria a boca e chupava Victoire. No outro momento era o inverso. E os dois ficavam nesse movimento. Um vai-e-vém que simplesmente não se aprende – parece que nascemos com isso. Instinto.

Victoire era uma mulher que beijava muito bem. Talvez porque sabia como ninguém se entregar. Gostava daquilo, gostava de sentir que estava com um homem – mesmo com o fato de Al ser um fumante inveterado. Gostava de sentir a barba baixa dele pinicando nela, as mãos grandes dele na sua cintura, seu braço grande a envolvendo.

“Opa”, interrompeu Al, “Cabelo de novo”.

Victoire deu risada depois da interrupção. Quando ela olhou pra baixo viu que Al estava sem toalha, e pelo estado do seu pau, ele tava mais que pronto.

Al então puxou gentilmente a toalha dela. Agora estavam ambos, enfim, nus.

- - - - -

21h03

“Identifique-se, por favor”, disse a gentil atendente, uma bela negra britânica.

“Bruno Andrada”, disse a voz.

“Pode entrar, senhor. Eles estão te aguardando na...”, ela disse, mas foi interrompida pelo homem que completou:

“Crush Room, sim?”, disse o homem.

“Sim senhor. Tenha uma ótima reunião!”, disse a atendente.

A Crush Room não era uma sala muito grande dentro da Royal Opera House. Para a importância e magnitude do que estava prestes a acontecer ali esse local parecia simples e pequeno até. Ele estava no covil dos ladrões. Todos ali eram pessoas renomadas – empresários, políticos, e todos os tipos pessoas influentes na sociedade global. Todos reunidos secretamente para discutir o futuro do mundo.

Era nessas reuniões que tudo parecia ser arquitetado. Havia uma mesa imensa, com diversos lugares. Garçons serviam canapés e champanhe da melhor qualidade. O carpete vermelho e os quadros na parede lembravam quase que um palácio francês. De fato, aquele lugar era só pra nobreza da sociedade atual.

Conforme o homem ia atravessando o recinto, ia percebendo que algumas pessoas ao verem mostravam uma cara de susto e depois começavam a cochichar entre si.

Porém, ele não entendia o motivo desses cochichos todos. Ele estava trajado de black-tie como todos os outros convidados e convidadas. E mesmo assim não eram todos que cochichavam.

No seu ouvido havia uma escuta.

“E aí? Já foi abocanhado por alguma cobra nesse covil?”, brincou Neige.

“Não. Mas não sei o que tá acontecendo, algumas pessoas olham pra mim como se tivessem visto um fantasma”, brincou o homem, falando baixinho.

“Bom, mas pelo menos você entrou, Al. Tente não chamar muito a atenção. Lembre-se de agir como o nosso amiguinho que nos livramos dele. Aí você é o brasileiro Bruno Andrada”, disse Neige.

“Sim, comandante”, disse Al, fechando a conversa.

Mal deu pra provar um canapé e todos ficaram em silêncio, se virando pra frente. Uma pessoa sentou na mesa, no canto oposto dela. Era uma mulher, era bem velha, um pouco gorda, e estava vestindo uma roupa social simples e preta. Suas sobrancelhas eram arqueadas pra cima, e tinha uma cara imensa de esposa de mafioso.

“Senhoras e senhores, desculpe o atraso, vamos começar a reunião”, disse a mulher.

Al ficou abismado ao ver quem era. Era Francesca Vittorio.

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